Criado na Linha de Sintra, foi aqui que esta criatura suburbana encontrou os primeiros versos do seu caderno. As palavras são a sua vida e foi, por isso, que se mandou de cabeça para a Publicidade, trabalhando como copywriter desde os 20. Pelo meio, a poesia nunca ficou para trás, apesar de não ter coragem para se chegar à frente e cuspir o que vai lá dentro.
Cá fora, está a sua primeira obra, A Balada do Bairro.
Nascido em Santarém, foi a música que empurrou Alberto para a arte. DJ desde os 14, fez-se à pista e ganhou o gosto pela Comunicação. Passou por várias agências de Publicidade, até fundar o premiado Estúdio Núcleo Áudio. O interesse pela Publicidade e Direção de Arte nunca se perdeu e tem vindo a dedicar-se a essa área desde 2020.
Quem é essa?
Quem é essa que se faz ver?
Na Calçada que balança a intimidade em desfile de egos,
Estética dança sem salão – e nos deixa cegos.
Qual cânone,
Qual Platão.
Ela arrepele a pele e rasga o traje como uma cascavel.
Revela-se ultraje provocando mais um terramoto.
Mas é só papel.
E quando desce as escadas de São Jorge,
Zarpa vadia, das águas – sem dono - ela foge.
Tu não és ninguém.
Sais e vais com todos, nem sabes de quem és mãe.
Neolítica, menina e moça - chamam-te nomes.
Mas eu quero-te assim, mefítica.
Dança, cínica, e escora-te na minha boca
Arrastas os pés.
Arrastas mais um pouco e as grilhetas fazem dançar a galé.
Também ouves o barambé?
É. É só mais uma caravela ultramarina ou uma carruagem que vem de Sintra.
Ou de lés-a-lés.
É só a nossa cina.
Numa linha que se assina o teu sotaque calé.
Estares viva é uma sorte.
Por isso, agarra-lhes a mão e adivinha-lhes a morte.
Esse perfume que se conhece encerra-se em ciúme
E faz de nós seus fiéis.
Percorro o teu corpo, dos lábios à Almirante Reis.
Só te querem bem. Vestida.
Para mim, ficas melhor assim. Despida.
2021, João Almeida Santos