Perambulando no ponto da lingua
Tempos entre tempos
Sombras, vibram na pagina 
Verdades, quantas cabem? 
&nbsp;
Esticada nos seus bra&ccedil;os 
Infinitamente sua semente 
Plantada na escurid&atilde;o 
&nbsp;
Mas olha:
Hoje seus ramos correm por todo lado 
E fazem pontes
J&aacute; longe da minha compreens&atilde;o 
&nbsp;
Arranco
Intimidades anf&iacute;bias
Que pousam em peitos distantes. 
Eu vejo elas partirem
Desejo
Boas viagens

Boas Viagens 

Esses olhares e sorrisos s&atilde;o tamb&eacute;m formas de comunica&ccedil;&atilde;o mas retraem-se nas esquinas do ol&aacute; e do adeus, nessa Lisboa mesti&ccedil;a que h&aacute; muito deixou de ser a cidade branca e tornou-se num mundo, grande e pequeno, um mundo cheio de cores e luzes que iluminam estrelas que n&atilde;o brilham.&nbsp;
O clima &eacute; ameno mas as atitudes s&atilde;o frias, nas ruelas e becos deambulam mentes futuristas que arrastam ideias revolucion&aacute;rias e trancam o passado em criptas, avenidas cheias e vazias substituem invas&otilde;es por verdadeiras conquistas, Avenida Almirante Reis, o epicentro da diversidade e representatividade, &eacute; l&aacute; onde encontro o sinal de stop no sal&atilde;o do Papy, a paragem obrigat&oacute;ria para os meus dreadlocks, deparo-me com Zucas, Tugas, mangopes e Guineenses a debaterem sobre futebol e pol&iacute;tica , cada um na sua l&iacute;ngua, mas n&atilde;o apresenta e nem representa condi&ccedil;&atilde;o sobre a express&atilde;o porque a necessidade &eacute; natural, &eacute; l&aacute; onde a gastronomia fala mas poucos conseguem ouvir, nessa Lisboa que &eacute; mesti&ccedil;a, nessa Lisboa que &eacute; a extens&atilde;o das mais diferentes culturas geogr&aacute;ficas e gr&aacute;ficas fora do seu habitat natural, onde o com&eacute;rcio triangular virou com&eacute;rcio retangular nos corredores do centro comercial da Mouraria.&nbsp;
A China &eacute; nos anjos e a &Iacute;ndia &eacute; no Intendente, O Rossio &eacute; quente e aconchegante como o ventre da terra m&atilde;e, atrai turistas vindos dos mais long&iacute;nquos espa&ccedil;os terrestres, aterram no aeroporto da Portela curiosos para saber como &eacute; que as mais variadas l&iacute;nguas comunicam e vivem em conc&iacute;lio perfeito, curiosos para ouvir a linguagem impercept&iacute;vel aos ouvidos do ex colono, mas que existe, resiste e persiste na mente, corda vocal e em todo o cora&ccedil;&atilde;o crioulo.

Vontade intrínseca mas proibida.

Quem &eacute; essa?
Quem &eacute; essa que se faz ver?
Na Cal&ccedil;ada que balan&ccedil;a a intimidade em desfile de egos,
Est&eacute;tica dan&ccedil;a sem sal&atilde;o &ndash; e nos deixa cegos.
Qual c&acirc;none,
&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Qual Plat&atilde;o.
&nbsp;
Ela arrepele a pele e rasga o traje como uma cascavel.
Revela-se ultraje provocando mais um terramoto.
&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Mas &eacute; s&oacute; papel.
E quando desce as escadas de S&atilde;o Jorge,
Zarpa vadia, das &aacute;guas &ndash; sem dono - ela foge.
&nbsp;
Tu n&atilde;o &eacute;s ningu&eacute;m.
Sais e vais com todos, nem sabes de quem &eacute;s m&atilde;e.
Neol&iacute;tica, menina e mo&ccedil;a - chamam-te nomes.
Mas eu quero-te assim, mef&iacute;tica.
Dan&ccedil;a, c&iacute;nica, e escora-te na minha boca
&nbsp;
Arrastas os p&eacute;s.
Arrastas mais um pouco e as grilhetas fazem dan&ccedil;ar a gal&eacute;.
&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tamb&eacute;m ouves o baramb&eacute;?
&Eacute;. &Eacute; s&oacute; mais uma caravela ultramarina ou uma carruagem que vem de Sintra.
Ou de l&eacute;s-a-l&eacute;s.
&Eacute; s&oacute; a nossa cina.
Numa linha que se assina o teu sotaque cal&eacute;.
&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Estares viva &eacute; uma sorte.
Por isso, agarra-lhes a m&atilde;o e adivinha-lhes a morte.
Esse perfume que se conhece encerra-se em ci&uacute;me
E faz de n&oacute;s seus fi&eacute;is.
Percorro o teu corpo, dos l&aacute;bios &agrave; Almirante Reis.
&nbsp;
S&oacute; te querem bem. Vestida.
Para mim, ficas melhor assim. Despida.
&nbsp;
2021, Jo&atilde;o Almeida Santos
<a href="https://soundcloud.com/par-joaoealberto">Ouve aqui o poema</a>

1755

Cri.&nbsp;
Cri numa cidade assim:&nbsp;
envolta na misticidade de si pr&oacute;pria.&nbsp;
 &nbsp;
Queria t&ecirc;-la entre as minhas telas de palavras&nbsp;
e as minhas pinturas faladas.&nbsp;
-&nbsp;creatina&nbsp;dos m&uacute;sculos que a comp&otilde;em.&nbsp;
 &nbsp;
Eu cri em ti e vi, Lisboa, dares-me&nbsp;
o que nunca ningu&eacute;m deu&nbsp;
-&nbsp;um&nbsp;espa&ccedil;o onde pudesse ser puro,&nbsp;
onde ser crioulo n&atilde;o fosse duro.&nbsp;
 &nbsp;
Eu queria a atividade de ser eu&nbsp;
puro!&nbsp;
sem m&aacute;scara d&rsquo;Orpheu&nbsp;
e asas queimadas&nbsp;
ca&iacute;das do c&eacute;u.&nbsp;
Express&atilde;o matem&aacute;tica que conjuro,&nbsp;
express&atilde;o idiom&aacute;tica do futuro:&nbsp;
crioulo escuro e&nbsp;kuduro.&nbsp;
 
E agora olha para n&oacute;s. Olha para mim.&nbsp;
 &nbsp;
Eu sou crioulo. Sou irmandade.&nbsp;
sou a cria cativa da cidade&nbsp;
que s&oacute; queria cantar: &ldquo;sodade&rdquo;&nbsp;
Sou o&nbsp;criolo&nbsp;que creu&nbsp;
e expressou o seu mais profundo eu.&nbsp;
Sou o crioulo que queria criar&nbsp;
nesta Lisboa, menina e mocidade.&nbsp;
 &nbsp;
Cri, queria e fiz.&nbsp;
Sou toda a criatividade de um pa&iacute;s.&nbsp;

Criatividade 

Lisboa y la forma como transforma... Mari Segura&nbsp; La forma como se transforma Esta ciudad durante el día De cuantos rostros la transitan Al ambiente que la luz determina En cada esquina&nbsp; Que a su vez transforma El paso leve del lisboeta Que al tiempo trata como poeta&nbsp; La forma como se transforma Un extranjero y su perspectiva En una Lisboa que te abraza Se entrelaza; deja viva&nbsp; La cultura se reforma En cada &ldquo;obrigada&rdquo; con acento Una historia de llegada Al lugar perfecto En perfecto momento&nbsp; En su forma se transforman Las secuelas de trayectos Que en su mezcla crean De criolla los cimientos Siete países en una mesa para cenar Bello es que sea regular&nbsp; El atardecer en Senhora do Monte A cualquiera encanta en su forma A mí me encanta Lisboa Y la forma como se transforma&nbsp;

Transformación

<div>
<div>Interpreta&ccedil;&atilde;o&hellip; &eacute; uma explica&ccedil;&atilde;o&nbsp;</div>
<div>&Eacute; um comentario, uma vers&atilde;o&nbsp;</div>
<div>Um mal-entendido, sentido que ficou perdido</div>
<div>Ora numa cantiga</div>
<div>Ora no palco da vida&nbsp;</div>
<div>Que deu voltas ao contrario do que foi</div>
<div>E desviou do que se intencionou&hellip;</div>
<div>Mas</div>
<div>Tem vezes que ela ganha asas que antes n&atilde;o tinha&nbsp;</div>
<div>De lagarta passa a borboleta</div>
<div>Pinta novo tra&ccedil;o, outra linha&nbsp;</div>
<div>E chega a nos a velha mensagem</div>
<div>Agora trajada com nova penugem&nbsp;</div>
<div>Como nunca antes vista&nbsp;</div>
<div>Fruto da magia alquimista&nbsp;</div>
<div>E</div>
<div>&Eacute; neste mar de possibilidades</div>
<div>Que a vida se interpreta a ela mesma&nbsp;</div>
<div>Misturando-se em nossa individualidade</div>
<div>Da maneira mais pura e honesta&nbsp;</div>
<div>Deixando o tempo pulsante ditar</div>
<div>Como &eacute; que nos propios vamos nos querer interpretar</div>
</div>

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